O perfeccionismo deveria ser encarado como uma busca constante por melhorias e aperfeiçoamento.
Vivenciado de forma equilibrada, é uma característica que pode nos levar à excelência, a fazer algo melhor para nós mesmos e para os outros.
O problema é que muitas pessoas estabelecem para si níveis de exigência e perfeição inatingíveis, cuja procura só provoca desconforto, ansiedade e sofrimento.
Veja a seguir, dez exemplos de que o seu perfeccionismo saiu do controle.NUNCA CUMPRIR PRAZOS
De acordo com o psiquiatra Leonard F. Verea, uma das características mais comuns dos perfeccionistas é a mania de procrastinar.
"Desculpas e explicações lógicas são criadas para adiar algo que já está pronto para começar", afirma o especialista. O problema é que as tentativas constantes em entregar um trabalho perfeito (segundo o próprio julgamento) podem acabar em uma eterna procrastinação e, consequentemente, em atrasos mal vistos, principalmente na parte profissional.
Dica: tente não sofrer, mesmo que a sensação de "eu poderia ter feito melhor" apareça. Se esforce para confiar mais naquilo que faz
NÃO SE CONTENTAR COM RESULTADOS QUE SERIAM ÓTIMOS PARA OS OUTROS
É o caso de quem sofre horrores por tirar 8,5 em uma avaliação, cujo valor máximo seria 10, e coloca em xeque a própria capacidade. "O perfeccionista extremo fica remoendo aquilo que poderia ter feito melhor, em vez de valorizar a conquista alcançada.
O erro é visto como uma falha interna, não como uma ação ou comportamento que poderia ser modificado. Cada vez que o perfeccionista falha, ele tem a sensação de que ele é falho, e não suas atitudes", comenta o psicólogo clínico João Alexandre Borba.
Para lidar melhor com essa conduta, é preciso se conscientizar de que nenhuma pessoa é 100% em tudo. Temos aptidões e facilidades para certas coisas e em outras não somos tão bons. E jamais se comparar a quem quer que seja, mesmo que isso seja fruto da cultura familiar - quando a comparação filhos/irmãos é comum, por exemplo.
CULPA, ANSIEDADE E FRUSTRAÇÃO CONSTANTES
De acordo com o psicólogo clínico João Alexandre Borba, o perfeccionista é alguém que, na essência, não se sentiu aceito/amado por alguém que muito amou ou ama. "Isso gera a necessidade de estar sempre se testando e se provando para o mundo.
É como uma criança buscando uma eterna aprovação", conta. Por não se dar "folga", o perfeccionista vive em constante esgotamento emocional. "É importante definir o que é prioridade e saber que toda escolha requer uma abdicação. Isso precisa ser feito sem culpa", diz o psiquiatra Leonard F. Verea.
Essa aceitação, para a psicóloga organizacional Izabel Failde, deve ser feita por partes. "Aceitar que fez o melhor que pôde em um determinado trabalho ou em certa situação, com os recursos disponíveis, no tempo proposto, é um bom caminho", diz Izabel.
ATORMENTAR OS OUTROS COM SEU ALTO NÍVEL DE EXIGÊNCIA
"No fundo, quem atormenta os outros com sua busca do perfeccionismo está buscando aprovação para si mesmo", explica Ted Feder, psicólogo da empresa Carevolution, de São Paulo. Às vezes, o perfeccionista nem se dá conta de como sufoca os demais, principalmente no ambiente de trabalho, com demandas que só fazem sentido para ele mesmo. "Essas pessoas acreditam que quando chamam a atenção de alguém é por uma boa causa. Internamente, ele imagina estar ajudando e oferecendo o seu melhor", declara o psicólogo clínico João Alexandre Borba.
Até que os colegas ou funcionários se acostumem a isso, muitos conflitos - e até pedidos de demissão - no meio do caminho podem ocorrer. Para mudar esse padrão, exponha sua real intenção com a crítica antes de fazê-la. Entenda que cada um tem seu tempo e maneira de se comunicar. Afinal, muitas vezes o problema maior não está no que é dito, mas sim em como é dito.
NÃO ELOGIAR NEM RECONHECER O VALOR ALHEIO
Para o psicólogo Ted Feder, da empresa Carevolution, de São Paulo, essa é uma dificuldade comum entre os perfeccionistas exagerados. "O mecanismo é simples: se elogio o outro, reconheço que existem outros modelos de pensamento. Isso coloca em dúvida a minha busca pela perfeição porque, intimamente, só posso admitir a existência de um único modelo: o meu", fala o especialista.
Na prática, essa atitude acaba tolhendo a criatividade e a iniciativa dos outros e provocando solidão, pois o nível altíssimo de exigência vai isolando o perfeccionista. Para quem se identificou, fica a dica: lembre-se de que as pessoas são mais suscetíveis a ouvir e a produzir quando se sentem valorizadas
TER CONFLITOS COM O PARCEIRO POR COISAS MÍNIMAS DO DIA A DIA
As briguinhas, nesse caso, vão muito além da tampa levantada do vaso sanitário. O perfeccionista quer que as coisas sejam organizadas sempre do seu modo, o que inclui até deixar o tapete da sala minuciosamente alinhado ao sofá, por exemplo.
O que esse tipo de pessoa exige de si mesmo, acaba exigindo do outro e a vida a dois se transforma em um inferno. "Tudo é motivo para conflito, pois o casal provavelmente não está discutindo sobre a realidade, mas, sim, sobre o mundo imaginário e perfeito de um deles", declara o psicólogo Ted Feder, da empresa Carevolution, de São Paulo.
Já o psicólogo clínico João Alexandre Borba explica que uma das maneiras que o perfeccionista encontra para oferecer amor é a falsa crença de que precisa intervir em pequenas atitudes do parceiro. "É como se ele tivesse um sistema de regras estabelecidas que devem ser seguidas para obter o sucesso na relação", diz. O problema é que as normas e manias acabam com a espontaneidade, tão necessária às relações amorosas. Aí se faz necessário perguntar: quero ser feliz ou ter razão? Críticas em excesso envenenam qualquer relação
TENTAR MOLDAR OS FILHOS DE ACORDO COM SEUS PADRÕES RÍGIDOS
As pessoas têm seus próprios padrões de caráter e comportamento, mesmo quando pertencem à mesma família e, teoricamente, recebem a mesma educação. "Isso acontece porque as personalidades são diferentes, assim como as visões de mundo", comenta a psicóloga organizacional Izabel Failde.
O perfeccionista extremo quer passar por cima disso tudo, principalmente ao lidar com os filhos, mas não o faz por mal, muito pelo contrário: ele acredita que as críticas são sinal de amor e de cuidados essenciais, um modo de evitar que cometam erros que possam prejudicá-los. "É muito comum pais perfeccionistas serem duros ou rígidos com seus filhos em prol de um amor maior. O que frequentemente acontece é que depois de um tempo o filho acaba se distanciando", fala o psicólogo clínico João Alexandre Borba.
Para se sentirem amadas e aceitas, as pessoas, em geral, também necessitam se sentirem acolhidas e livres. "Aceite mais e liberte. Cada um tem o seu jeito e é na criatividade que desenvolvemos nossa originalidade como indivíduos. Evite que seus filhos se sintam na posição desconfortável de precisar da sua aprovação", diz João Alexandre
VIVER DOENTE E NUNCA RELAXAR
Uma rotina dominada por normas, organização e detalhes pode causar uma ansiedade profunda e intensa, prejudicando o sistema imunológico e tornando-o suscetível às mais diversas doenças. "E como os perfeccionistas não aceitam o fracasso, evitam correr quaisquer tipos de risco, mesmo os necessários, e, assim, reforçam seus medos e reduzem as chances de sucesso. Estão sempre sob pressão. A falta do relaxamento os torna mais rígidos, secos e os afastam das pessoas", conta o psiquiatra Leonard F. Verea.
Exercícios de respiração e meditação costumam ajudar, assim como caminhadas frequentes. No entanto, colocar prazer no dia a dia é essencial para ter qualidade de vida e, muitas vezes, é algo que o perfeccionista coloca em último lugar em sua agenda. É preciso aprender a ter a capacidade de relaxar e curtir os momentos, além de evitar encher o dia com metas inalcançáveis. Se cumprir um objetivo simples por dia, mas com prazer, já valerá a pena
DEIXAR A CRIATIVIDADE DE LADO
Com tanta energia empregada em desempenhar os processos e cumprir normas de maneira irrepreensível (mais para si mesmo do que para o olhar alheio), não é de se admirar que muitos perfeccionistas pequem pela originalidade e qualidade de ideias. "A criatividade precisa ser estimulada, principalmente porque fica fora da zona de conforto. Um bom exercício é ter uma atividade prazerosa, em que se sinta bem. Pode ser ouvir uma música, fazer algo relacionado à arte, exercícios...", diz o psiquiatra Leonard F. Verea.
Fonte: UOL/Comportamento
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